A menina que plantava Palavras
Lia conhecia muitas palavras. Ela era filha de Bia, que lia de noite, escrevia de dia e relia de madrugada.
Lia ficou olhando e tentando ler a palavrinha que começou a germinar e virar um brotinho vermelho. Lia leu: IN-VE-JA.
— Inveja?
A palavrinha havia se transformado em uma flor estranha e cheia de espinhos. Brotou tão rápido e floresceu mais rápido ainda.
- Como havia ido parar ali?
- Havia caído da sua cabeça?
Uma tristeza sombria, igual a uma grande noite escura, invadiu o seu coração quando percebeu que inveja era o que ela havia sentido por Bida e seus números.
Lia ficou confusa e resolveu voltar para casa — aquela brotação inesperada tinha sido demais para um início de dia! Foi voltando que Lia percebeu: no caminho já havia brotado um jardim inteiro! Havia vários tipos de flor, todas muito estranhas. Algumas tinham espinhos, farpas e tinha até uma que de longe cheirava mal.
E Lia pensando e pensando... Se uma flor tão cheia de espinhos tinha saído da feia inveja, talvez flores mais bonitas pudessem nascer de palavras bonitas! Então era fácil! Lia resolveu: amanhã iria sair bem cedo e no caminho só pensaria palavras bonitas. Fez até uma listinha: amor, carinho, atenção, rosa (da cor de sorvete de morango)...
Na manhã seguinte Lia saiu pensando e pensando. Pensando e pensando repetia a listinha com todo cuidado. Amor, carinho, atenção, rosa – amor, carinho, atenção, rosa... Quando achou que já havia pensado bastante olhou para trás para ver se as palavrinhas estavam caindo. Ela queria formar um caminho bem bonito.
Então Lia entendeu:
era preciso semear as palavras bonitas que surgiam no coração.
Ela podia afinal, escolher que tipo de jardim queria plantar!
Lia gostava das palavras. Ela havia aprendido com sua mãe que as palavras contavam, surpreendiam, acariciavam. O que Lia não sabia é que as palavras floresciam!
Mas ela descobriu.
Foi numa destas manhãs em que a gente levanta meio triste, meio sem sorriso, com poeirinha no olho sem saber por quê.
A cabeça de Lia estava cheia de pensamentos. Muito cheia mesmo. Ela pensava na pombinha que beliscava restinhos na calçada, na sombrinha cor de sorvete de morango que havia visto na vitrine, nas luzes fortes das luminárias que piscavam na sua janela enquanto ela queria dormir. Lia pensava nos números do seu caderno de matemática, bem escondidinho no fundo da mochila – eles bem que podiam fugir pelo buraquinho do rasgado que ela não ia sentir falta!
Lia pensou também em Bida e foi um pensamento ruim. Bida parecia ser mais amiga dos números do que a professora de matemática!! Lia pensava e pensava. Pensava tanto que, de repente, uma palavra escapuliu da sua cabeça, escorregou redonda pelos seus cabelos e se alojou em um cantinho de terra, na beira do caminho.
Lia ficou olhando e tentando ler a palavrinha que começou a germinar e virar um brotinho vermelho. Lia leu: IN-VE-JA.
— Inveja?
A palavrinha havia se transformado em uma flor estranha e cheia de espinhos. Brotou tão rápido e floresceu mais rápido ainda.
- Como havia ido parar ali?
- Havia caído da sua cabeça?
Uma tristeza sombria, igual a uma grande noite escura, invadiu o seu coração quando percebeu que inveja era o que ela havia sentido por Bida e seus números.
Lia ficou confusa e resolveu voltar para casa — aquela brotação inesperada tinha sido demais para um início de dia! Foi voltando que Lia percebeu: no caminho já havia brotado um jardim inteiro! Havia vários tipos de flor, todas muito estranhas. Algumas tinham espinhos, farpas e tinha até uma que de longe cheirava mal.
E Lia pensando e pensando... Se uma flor tão cheia de espinhos tinha saído da feia inveja, talvez flores mais bonitas pudessem nascer de palavras bonitas! Então era fácil! Lia resolveu: amanhã iria sair bem cedo e no caminho só pensaria palavras bonitas. Fez até uma listinha: amor, carinho, atenção, rosa (da cor de sorvete de morango)...
Na manhã seguinte Lia saiu pensando e pensando. Pensando e pensando repetia a listinha com todo cuidado. Amor, carinho, atenção, rosa – amor, carinho, atenção, rosa... Quando achou que já havia pensado bastante olhou para trás para ver se as palavrinhas estavam caindo. Ela queria formar um caminho bem bonito.
Mas Lia viu que as florinhas que brotavam estavam pequeninas e raquíticas. Umas nasciam e murchavam imediatamente. Lia voltou para casa triste. E, em seu caminho, as flores ficavam cada vez menores e sem cores.
Em casa, Lia resolveu parar de pensar e foi brincar com os seus números. Eles não haviam fugido e esperavam pacientemente que ela os arrumasse em contas exatas e fileiras ordenadas.
Lia nem percebeu o tempo passar e resolveu todos os exercícios atrasados. Dormiu feliz. Acordou ainda mais feliz, na expectativa de mostrar seu caderno para a professora. Pelo caminho da escola Lia não pensava o que queria pensar. Palavras de alegria haviam invadido a sua cabecinha, por que alegria é assim – se você deixar, ela toma conta de tudo.
Sem controle, as palavras começaram de novo a cair da cabeça de Lia. Floresciam instantaneamente.
Sem controle, as palavras começaram de novo a cair da cabeça de Lia. Floresciam instantaneamente.
E Lia pensando...
Apenas as palavras que nasciam do seu coração, como a alegria que estava sentindo, floresciam fortes. Se fossem palavras de um sentimento bom – flores fortes e bonitas, se fossem palavras de um sentimento ruim como a inveja que ela havia sentido de Bida – flores fortes, mas que pareciam conter um veneno capaz de apagar até a luz do dia. Palavras que saiam apenas da cabeça como a listinha que havia repetido sem parar, só davam flores fracas e sem cor que logo morriam – não tinham força.
Apenas as palavras que nasciam do seu coração, como a alegria que estava sentindo, floresciam fortes. Se fossem palavras de um sentimento bom – flores fortes e bonitas, se fossem palavras de um sentimento ruim como a inveja que ela havia sentido de Bida – flores fortes, mas que pareciam conter um veneno capaz de apagar até a luz do dia. Palavras que saiam apenas da cabeça como a listinha que havia repetido sem parar, só davam flores fracas e sem cor que logo morriam – não tinham força.
Então Lia entendeu:
era preciso semear as palavras bonitas que surgiam no coração.
Ela podia afinal, escolher que tipo de jardim queria plantar!
Texto e ilustrações: Fátima Seehagen
Que linda história! Pantou alegria no meu coração! Obrigada querida.
ResponderExcluirQuerida Fátima,
ResponderExcluirFoi muito gratificante, para mim, constatar que, além de excelente artista plástica, você também faz bonito no campo da Literatura. O link que estabeleceu entre as flores cultivadas por Lia e os sentimentos dela, foi fantástico e bem demonstra seu imenso poder criativo. E a conclusão de Lia, então: "Era preciso semear as palavras bonitas que surgiam do coração.". Perfeita! Adorei. Parabéns! Já inclui seus blogs em minha barra de favoritos (sem nenhum favor, diga-se de passagem). Adorei, também, o "Dicas de Pinturas". Espetacular!
Amei o que escreveu, até porque também vivencio um conflito entre as Artes, o Direito e a Literatura. De tempos em tempos, cada um deles garante seu lugar no meu coração e no podium, também. Bom para eles e péssimo para mim, que fico numa aflição medonha!Dá para entender, não é? Um grande abraço e muito obrigada pela solidariedade em nos passar dicas e relatos de sua rica experiência no campo das artes (e, agora, na Literatura, também!).
Cléria Saldanha
Fortaleza/Ceará/Brasil
Seu jardim é lindo.
ResponderExcluirMelhores sementes,das flores mais lindas.
Amei o conto.
Um abraço.
Cristina.
Amei seus contos especialmente a menina que Plantava palavras. Demonstra muita criatividade e muitos dons que a enriquece. Parabens! Wanda.(Blog da Wanda)
ResponderExcluirBelíssimas!
ResponderExcluirTanto a sutil narrativa como as delicadas aquarelas.
Obrigada, Moacir, por seu carinho!
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